Friday, April 20, 2007

Breviário do pensamento cosmológico - um bom observador confunde-se...















Tycho Brahe[1] era um nobre dinamarquês com uma fisionomia curiosa: tinham-lhe cortado o nariz num duelo, usando um feito de metal.
Um acontecimento astronómico fê-lo abraçar a carreira de toda a sua vida – um eclipse do Sol. Não foi só o eclipse que o impressionou, foi principalmente o facto de ter sido previsto. A partir desse momento tornou-se astrónomo. Sem a vantagem de um Telescópio ( que ainda não tinha sido inventado), Brahe apresentou tabelas posicionais de grande rigor. Registou, por exemplo, minúsculas irregularidades no movimento da Lua, que só foram explicadas mais tarde.
Duas das observações de Brahe foram de especial importância. Nas estrelas fixas, por oposição aos planetas que se moviam, não observou paralaxe[2], alterações da posição relativa das estrelas que, raciocinou ele, deviam ser observadas se a Terra se deslocasse no espaço. Vemos o mesmo efeito olhando para o mostrador de um relógio. Dado que os ponteiros estão salientes em relação ao mostrador, parecem apontar para marcas diferentes se alterarmos a nossa posição de um lado do relógio para o outro. Do mesmo modo, duas estrelas a distâncias diferentes de um observador parecem alterar a sua posição relativa, conforme o observador se desloca.
Brahe concluiu que, sem paralaxe, a Terra não se movia em relação às estrelas fixas. O que ele não compreendeu foi que elas estavam tão distantes que o efeito era incomensuravelmente pequeno. A ideia de uma Terra fixa foi reforçada para Brahe pela sua interpretação da Bíblia, que, para ele, parecia indicar uma Terra imóvel.
Assim, Tycho Brahe desenvolveu um sistema que combinava o modelo Copernicano com o modelo Ptolomaico: manteve a Terra no centro do Universo (respeitando a física Aristotélica). A Lua e o Sol faziam o seu movimento à volta da Terra, assim como as estrelas fixas também estavam centradas na Terra. Mas os planetas (Mercúrio, Vénus, Marte, Júpiter e Saturno) tinham o seu movimento à volta do Sol. Nunca foi plenamente aceite.
Outra das observações mais importantes de Brahe está registada no seu diário, em 1572. «Uma noite, quando estava a contemplar, como habitualmente, a abóbada celeste, vi, com inexprimível espanto, perto do zénite[3], em Cassiopeia[4], uma estrela radiante de extraordinária magnitude.». Brahe tinha visto uma Supernova – uma estrela a explodir no seu processo de morte. A observação feria também de morte o conceito de Aristóteles, de um Universo imutável.





Legenda:
Neste desenho do seu modelo de Universo, Thyco Brahe introduz o cometa que observou em 1577, com a sua “órbita circular”, entre Vénus e Marte.


Copérnico & Galileo


[1] Tycho Brahe: Astrónomo dinamarquês (1546-1601).
[2] Paralaxe: -(Gr. parállaxis, mudança), s.f. ângulo imaginário formado por duas rectas que partem do centro de um astro e se dirigem, uma para o centro da Terra e outra para o ponto em que se encontra o observador, a fim de se calcular a distância desse astro à Terra; -deslocação da posição aparente de um corpo, devida a uma mudança de posição do observador.
[3] Zénite: Ponto da esfera celeste situado na vertical acima do observador; opõe-se-lhe o nadir. Cada ponto do Globo possui o seu zénite, e se se tomar por origem o horizonte, o zénite estará 90 graus acima de todas as direcções.
[4] Cassiopeia: constelação situada entre as latitudes 90 e –20 graus; visível todo o ano no hemisfério norte, mas a melhor observação é no mês de Novembro: as suas estrelas principais formam um W, com o lado esquerdo em ângulo mais aberto.